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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Informada em Roma sobre a insurreição que carcome sua coalizão partidária na Câmara, Dilma Rousseff teve duas reações. Em privado, portou-se à moda Dilma. Sob refletores, camuflou a irritação: “Acho que tem muito de especulação. E eu não vou, de fato, me manifestar sobre especulação. Vamos ver o que acontece de fato.'' Da capital italiana, Dilma irá a Bruxelas, na Bélgica. Só retorna ao Brasil na noite de segunda-feira. Na expectativa de que nada aconteça, ela acionou o vice-presidente Michel Temer para tentar deter a junção dos insurretos num bloco “independente”.
Coube à ministra Ideli Salvati, suposta coordenadora política do Planalto, conversar com Temer. Ela sugeriu a realização de uma grande reunião com os líderes descontentes, no Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice. Coisa para a própria segunda-feira, antes do retorno de Dilma. Temer respondeu que, no exercício da Presidência da República, só coordenaria o encontro mediante solicitação expressa da titular do cargo. Ideli telefonou para a chefe, que a autorizou a dizer a Temer que estava de acordo com a convocação da terapia grupal.
Na declaração feita em Roma —“tem muita especulação”—, Dilma pronunciou um vocábulo que traduz com perfeição o que ela pensa sobre a movimentação dos insurretos da Câmara. Numa das acepções anotadas no dicionário Houaiss,especulador é “aquele que negocia de má-fé, enganando os outros ou se aproveitando da necessidade alheia, para obter lucros acima do aceitável.” Para Dilma, seus pseudoaliados aproveitam-se da conjuntura eleitoral para fabricar um tumulto legislativo que lhes proporcione dividendos políticos inaceitáveis.
Munida da orientação de Dilma e da concordância de Temer, Ideli pôs-se a convidar os líderes dos partidos rebelados para a reunião do Jaburu. Ao farejar a movimentação da ministra, um dos líderes do blocão ironizou: “Michel Temer deveria ser usado para construir pontes, mas só lembram que ele existe na hora de apagar incêndios.” Outro especulador alfinetou: “Seria bom que o Aloizio Mercadante [chefe da Casa Civil] comparecesse à reunião. Não é ele o novo coordenador político do governo?”
Em verdade, o bombeiro Temer foi convocado porque, na visão que se disseminou no eixo Brasília-Roma, foram os comandantes do partido dele, o PMDB, que riscaram o fósforo. A presença do deputado Eduardo Cunha, líder da bancada do PMDB, nos arredores da fogueira não surpreendeu. Mas a presença do presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Eduardo Alves, na reunião em que o blocão dos rebeldes foi concebido acendeu em Dilma um enorme incômodo. “Isso não combina com a responsabilidade institucional do cargos que ele ocupa”, disse um intérprete de Dilma no Legislativo.
A encrenca escancara o paradoxo que envenena as relações de Dilma com seu condomínio partidário a oito meses da eleição presidencial. Sob orientação de Lula, Dilma utiliza sua reforma ministerial para trocar posições na Esplanada por tempo de propaganda na televisão. Sem qualquer escrúpulo, prurido ou reticência ética, ela forma não um gabinete dos melhores, mas dos politicamente mais rentáveis. O problema é que, aos olhos dos seus aliados, a presidente resolveu todas as pendências do PT e passou a discriminar os demais partidos.
Antes de decolar para Roma, Dilma teve uma conversa telefônica com Temer. Falaram de ministério. Ela reiterou uma oferta que o PMDB refugara há duas semanas. Os partidos que frequentam a periferia da coalizão observam a cena e se perguntam: se o sócio majoritário, o partido do vice-presidnete da República, é tratado assim, que será dos outros? Vem daí o ambiente de salve-se quem puder que se espraia pela Câmara.
Sob o argumento de que Dilma e o PT monopolizam os bônus que a atividade governamental proporciona, os aliados sustentam que não lhes resta senão fugir do ônus exercitando o poder de que dispõem no plenário da Câmara para distribuir acenos ao eleitorado. Como? Aprovando projetos que atendam às demandas de corporações e, supostamente, da opinião pública —mesmo que o Planalto considere tais propostas perdulárias e inconvenientes. No português das urnas: a turma está mais preocupada com a própria reeleição do que com a recondução de Dilma.
Ao acionar Temer, o Planalto espera que ele consiga abortar a reunião que os líderes do blocão marcaram para terça-feira, na casa de Eduardo Cunha, o mandachuva da bancada do PMDB. Nesse encontro, os operadores da revolta parlamentar planejam esboçar a pauta de votações do grupo. Por ora, o encontro está mantido. Mas a movimentação do Planalto já produziu um fenda no blocão. Na noite desta sexta-feira (21), o PSD soltou uma nota para informar que desistiu de integrar o grupo dos autoproclamados “independentes”.
Feliz participante da reunião de quarta-feira, aquela em que o blocão foi urdido, o líder do PSD, deputado Moreira Mendes (RO), foi, por assim dizer, enquadrado por Gilberto Kassab, presidente nacional da legenda. “É importante ressaltar que o PSD anunciou o apoio à reeleição e a sua entrada na base parlamentar do governo federal sem condicioná-los a nenhuma contrapartida ou exigência, mas, sim, por entender que, nesse momento, a reeleição da presidente Dilma [...] é fundamental para o Brasil…”, anota o texto, subscrito por Kassab e pelo enquadrado Moreira Mendes.
A despeito da meia-volta, o documento do PSD ecoou a insatisfação do condomínio ao realçar que as relações do Planalto com a Câmara têm de ser “melhoradas e aperfeiçoadas”. Seja como for, o recuo providenciado por Kassab produziu na tropa dos revoltosos 42 potenciais baixas. Dimensionada em 290 votos, a infataria dos incomodados é estimada agora em 248 especuladores. Ao longo da semana a plateia vai descobrir até onde vai a disposição do grupo de “se aproveitar da necessidade alheia.”
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