Na última quinta-feira, a candidata do PSB à Presidência fez a VEJA seu balanço de uma campanha que ela diz ser dominada pelo "marketing selvagem"
A senhora passou a maior parte de sua vida política no PT. Nesta campanha, vem sendo alvo de ataques muito pesados por parte da sigla. Isso a pegou de surpresa? Sim, isso me chocou um pouco. Acho que ninguém esperava esse marketing selvagem, que não tem nenhuma mediação dos valores e da ética. Todo mundo ficou um pouco assustado. A gente já viu isso no passado. O Collor ganhou uma eleição dizendo aberrações contra o Lula. Nos rincões do Brasil o que faziam circular era que o Lula tiraria um quarto de quem tinha dois, uma galinha de quem tinha duas, que ele iria confiscar as Bíblias de quem acreditava em Deus. Agora está acontecendo algo parecido, mas com sinal inverso. Dizem que se eu for eleita todo mundo vai ser obrigado a seguir a minha fé, o que contradiz toda a minha história como cristã. E depois dizem que eu vou acabar com o Bolsa Família, com o pré-sal, com a transposição do rio São Francisco – até com o direito a férias e ao décimo terceiro. Falam como seu eu fosse uma exterminadora do futuro. É uma nuvem de fumaça para impedir que as pessoas percebam que é o nosso presente que está sendo ameaçado com a volta da inflação, com os juros altos, com a corrupção.
Qual ataque lhe pareceu mais truculento? É uma nuvem de mentiras e boatos. Mas o que me deixa mais estarrecida é que esse tipo de marketing não desqualifica apenas a mim, ele também desqualifica a nossa história coletiva, aquilo que a sociedade brasileira conquistou e institucionalizou nas últimas décadas. O Brasil não é uma república de papel. Nós temos instituições que foram conquistadas a duras penas. Quando você diz que tudo isso pode ser retirado da mesa num passe de mágica, está fazendo pouco de todos nós. É difícil lutar contra essas coisas quando o adversário tem tantos recursos para fazer campanha. Mas eu me apego a duas coisas. Primeiro, conto com o discernimento da sociedade. Depois, me apego ao exemplo de pessoas muito maiores que eu. Os algozes de Nelson Mandela o puseram numa cadeia por mais de 25 anos. Hoje, todo mundo sabem quem era Mandela, e o nome de quem o oprimiu é que leva uma mancha. Martin Luther King era Martin Luther King, Gandhi era Gandhi. Eu tento me inspirar nessas pessoas.
E no ex-presidente Lula? Não mais? Eu peço a Deus que Lula ajude o PT a sair dessa lógica dos aloprados.
Mas Lula é o grande líder do PT. Sua influência é enorme no partido e naquilo que a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff põe nas ruas. O Lula não pode ser tragado pelo PT pragmático. O PT das origens não pode permitir que esse PT pragmático trague o Lula.
A senhora, então, não perdeu a confiança nele. Eu faço a aeróbica do bem.
O que é isso? É fortalecer a musculatura boa. É acreditar, mas não ingenuamente. Quem ajudou a tirar 40 milhões de pessoas da miséria, e esse é o legado do Lula, não pode ser visto como uma fraude. Da mesma forma que alguém que ajudou a tirar o país da inflação galopante, como o Fernando Henrique Cardoso, não pode ser esquecido – embora o próprio PSDB, por muito tempo, não tenha ressaltado toda a contribuição do seu político de maior renome. Desde 2010 eu falo dos dois legados, e digo que nós queremos governar com os melhores dos dois partidos.
A senhora está dizendo que institucionalmente é bom para o país preservar esses personagens, esses dois ex-presidentes que foram importantes, ou a senhora está dizendo que acha que o Lula pessoalmente não tem nada a ver com os rumos da campanha presidencial? Eu quero que Lula e Fernando Henrique voltem a ser sujeitos da nossa história. Eles, que tiveram de pagar o preço de ser tutelados pela Velha República, que voltem à cena política brasileira para estabelecer a contribuição da Nova República. É isso que eles devem fazer. Nós temos de entender que há algo de sério acontecendo no Brasil. A sociedade brasileira avançou muito mais que os partidos, que as lideranças. A sociedade está à frente. Por vinte anos as pessoas esperaram que a política mudasse. Agora, ela resolveu mudar os políticos. Mas o novo sempre se estabelece em cima de algo que já existia. As sociedades avançam quando são capazes de institucionalizar suas conquistas. Quando tudo é fulanizado, partidarizado, não se vai a lugar nenhum. O Lula fez um gesto, manteve o Plano Real, o principal legado do governo FHC. Quem vier agora tem de manter o legado da inclusão social, mas também abordar o novo desafio, que é o de recuperar a credibilidade para as instituições políticas. E para isso é mais fácil conversar com Lula e Fernando Henrique, por suas histórias, do que com Sarney e outros que incorporam e sustentam as velhas práticas.
A senhora e o ex-presidente Lula se falaram neste último mês? Não.
Se vocês assistirem este vídeo vão saber porque votarem em Marina Silva para presidente, confiram
Se vocês assistirem este vídeo vão saber porque votarem em Marina Silva para presidente, confiram